Os desafios da nossa geração

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Tatiane Pires

No texto “A força que brota na hostilidade” publicado no blog da @maria_fro, Gerson Carneiro questiona se “nós nascidos da década de setenta para cá” teríamos coragem de enfrentar situações extremas como ocorreu durante a Ditadura Militar. Segue um trecho do texto:

“Ressalvo importância a esta característica porque sinto falta deste potencial de decisão e execução em nós, juventude brasileira. Nós nascidos da década de setenta para cá. Tenho dúvidas reais se teríamos por exemplo a coragem da Dilma Rousseff e de suas companheiras de cela. Tenho dúvidas reais se teríamos a coragem dos guerrilheiros do Araguaia. A coragem do Carlos Lamarca.

Sinceramente penso que não teríamos. Penso que nossa coragem e nossa indignação se dão apenas na zona de conforto adstrita ao ato de, do interior de nossas residências, comentar nos blogs sujos em momentos livres de nossa ocupação com o ganha pão.”

O texto do Gerson me fez pensar se teríamos ou não esse “potencial de decisão e execução”.

É importante conhecer bem a história do Brasil, desde antes da chegada dos portugueses inclusive. E acho positiva essa discussão em torno do passado recente do País, pois não acredito ser possível pensar num projeto para o futuro sem compreender o que ocorreu nos últimos cinquenta anos pelo menos.

Um pouco de História

A Revolução Cubana, em 1959, trouxe a tensão da Guerra Fria para a América Latina. De acordo com a visão estadunidense, a partir desse momento, havia o risco de adesão ao comunismo por outros países latino-americanos. No Brasil, o foco dos discursos mudou de “tendência associativa” (de alinhamento com os EUA) x “tendência nacionalista” (movimento a favor do desenvolvimento) para capitalismo x comunismo, e consequente movimento anti-comunista.

Em 1961, o presidente Jânio Quadros renuncia. Com a viagem do vice João Goulart à China, comunista desde 1949, há resistência à posse. Leonel Brizola inicia no Rio Grande do Sul a Campanha da Legalidade, e Jango assume; o golpe militar é evitado por algum tempo. Em 13 de março de 64, Jango defende as Reformas de Base em um comício na Central do Brasil. A resposta de setores conservadores da sociedade vem na Marcha da Família com Deus pela Liberdade. A tensão aumenta, o golpe ocorre em 31 de março de 1964. Jango é deposto no dia 1º de abril.

Iniciava-se a Ditadura Militar. Toda associação civil contrária ao regime era considerada criminosa, greves de estudantes e trabalhadores eram proibidas. Obras gigantescas criavam empregos durante o período do “milagre econômico”; mas a crise do petróleo, em 1973, teve impacto profundo na economia brasileira. No entanto, a opinião pública só muda drasticamente após a morte de estudantes, entre eles Edson Luís de Lima Souto. As respostas do Regime foram mais violência e mais censura.

A Ditadura no Brasil está inserida no contexto da Guerra Fria, em que os Estados Unidos apoiaram golpes militares nos países da América Latina para impedir que a União Soviética tivesse áreas de influência aqui. Afinal eles acreditavam que a “América é para os americanos”. (Ainda acreditam! Alguém aí lembra da tentativa de criar a ALCA?)

De volta ao presente

Graças àquelas gerações, hoje vivemos em um País democrático. Ainda assim com muitos desafios! Produzimos e exportamos toneladas de alimentos, mesmo assim ainda vemos nas ruas pessoas sem ter o que comer. A educação e a saúde enfrentam graves problemas. São problemas que se agravaram ao longo da nossa história. Talvez não seja possível mudar tudo em 4, 8 ou 10 anos. Mas a omissão irá nos levar para o lado oposto daquilo que queremos.

A corrupção desanima a muitos que preferem, eleição após eleição, limitar-se a “votar no ‘menos pior'”. Há também os que não acreditam na força de mobilização da sociedade civil. Quanto aos últimos, quero lembrá-los das mobilizações pelo projeto Ficha Limpa e contra a “Lei Azeredo” – projeto de lei que põe em risco as liberdades individuais e vai na contra-mão do Marco Civil da Internet. Aos que “votam por votar”, é esse tipo de atitude que perpetua a corrupção na política brasileira.

Entretanto, a cidadania não se resume ao importante ato de votar. Ao colaborar em ONGs e projetos sociais, trazemos para o dia a dia a luta pacífica pelo Brasil que sonhamos. É preciso coragem, pois os desafios do nosso tempo nos esperam.

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