Questões com caracterizações de comportamentos (ou seja, “Você já coagiu alguém a ter relação sexual mantendo a pessoa sem poder se mover?”) comparadas com questões que utilizam rótulos (ou seja, “Você já estuprou alguém?”) produzirão diferentes respostas, mais homens admitirão comportamentos sexualmente coercitivos e mais mulheres relatarão terem sido vítimas quando as descrições comportamentais são utilizadas em vez de rótulos. De fato, alguns homens responderão sim a questões perguntando se eles usaram de força para obter uma relação sexual, mas negarão ter estuprado uma mulher.
Esse é um trecho do abstract do estudo “Negando o estupro, mas admitindo usar a força para obter relações sexuais: explorando as diferenças entre os entrevistados”[1], coordenado por Sarah R. Edwards, PhD, da University of North Dakota (EUA).
No estudo, foram identificados três perfis: homens que não concordam com comportamentos coercitivos (constranger por meio de força ou de violência) para conseguir relações sexuais; homens que admitem ser coertitivos, mas negam quando é usada a palavra estupro; e homens que apenas concordam com o uso da força, seja usada a palavra estupro ou não.
Ao primeiro grupo, dos homens que sabem que não é não, por favor, orientem seus coleguinhas a se comportar como gente. Sobre o terceiro grupo, que estupra e não está nem aí, não sei nem o que escrever; cadeia é a única coisa que consigo pensar para os seres do terceiro grupo.
O estereótipo de estuprador é do desconhecido que aborda uma mulher em uma rua escura e a ameaça para obter sexo. Isso, infelizmente, também acontece.
Detenhamo-nos, porém, no segundo grupo, pois muitos homens fazem parte dele. Muitos homens não associam o uso da força para obter relações sexuais com estupro. Mas essa é a definição de estupro, conforme o Artigo 213 do Código Penal brasileiro[2].
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.
Não importa se o cara é namorado, marido, ficante, paquera, whatever; se usou força ou ameaça: é estuprador. Fim de papo.
Acha que “dói” esfregar na cara da sociedade que há mais estupradores circulando por aí do que gostaríamos de admitir? Garanto que dói muito mais para as mulheres que são estupradas. Porque a dor, para essas mulheres, não se limita a da violação de seus corpos. O estupro é um trauma cujas consequências podem ferir durante toda a vida.
Esses homens devem ter aprendido que isso seria uma demonstração de masculinidade. Muito provavelmente, divertem-se nos seus círculos de amigos contando e ouvindo como obter sexo sem consentimento. Isso é estupro, independente de haver entre as pessoas envolvidas qualquer nível de amizade, de relacionamento ou de ter havido relações anteriormente consensuais.
É preciso, em primeiro lugar, dizer a esses homens que esse tipo de atitude é uma forma de violência contra a mulher. Pode ser que alguns se conscientizem e parem. Mas, para os que continuarem a agir assim mesmo depois das tentativas de alerta, na minha opinião, merecem ser punidos.
[1] Denying Rape but Endorsing Forceful Intercourse: Exploring Differences Among Responders
[2] Código Penal