Só uma mulher sabe o que é ser tratada de forma fútil e infantilizada pela prefeitura de Porto Alegre

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Tatiane Pires

por Vanessa Gil

A definição de unificar o Dia Internacional da Mulher na data de 8 de março foi aprovada na II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhague, em 1910. Sua proponente foi Clara Zetkin, revolucionária alemã que assim fez para lembrar o papel das mulheres na Revolução Russa. Infelizmente a origem revolucionária da luta das mulheres foi paulatinamente substituída por comemorações de caráter patriarcal exaltando supostas qualidades naturais da mulher e relembrando um triste episódio de incêndio de uma fábrica têxtil, verídico, mas distante da origem do Dia Internacional das Mulheres. Em Porto Alegre, o cenário não é diferente.

Nesse ano de 2013, já tão marcado pelo descaso da prefeitura de Porto Alegre com o corte das árvores, remoções forçadas, evidências da relação promíscua da atual administração com a especulação imobiliária, entre tantos outros episódios infelizes, acabamos por presenciar mais um absurdo, agora envolvendo o nosso dia de luta. A administração do Sr. Fortunatti criou um viral para as redes sociais com frases que iniciavam com a expressão “toda a mulher”. A partir daí se inicia uma banalização e um reforço de esteriótipos sem fim. Todas as frases iniciam com “Só uma mulher” e são seguidas pelas afirmações “sabe o que é perder uma chave dentro da própria bolsa” , “sabe o drama que é estragar a unha após sair da manicure”, “entende o valor de um chocolate na TPM”.

Esse tipo de postura apenas demonstra o rumo equivocado que nossa cidade está tomando. Evidencia o quanto a administração local está distante dos problemas das mulheres da cidade. Perder a chave da própria casa para a especulação imobiliária é grave. Perdê-la na bolsa é uma bênção, é sinal de que você tem uma casa. As mulheres de Porto Alegre sabem o que é perder a própria casa para que seja construída uma avenida e não ter para onde ir. Muitas mulheres nessa cidade sabem o que é vivenciar uma remoção forçada, recebendo apenas promessas vazias em troca daquilo que foi construído durante toda a sua vida.

Drama não é estragar as unhas ao sair da manicure. Aliás, isso é um privilégio numa sociedade desigual como a capitalista. Drama, alguém deve avisar a Prefeitura de Porto Alegre, é não ter creches municipais para as crianças. Drama é precisar trabalhar e não ter onde deixar os filhos/as. Drama é precisar de um posto de saúde e encontrá-lo fechado.

Quanto ao valor do chocolate, alguém também deveria avisar ao prefeito, não está ligado ao nosso senso crítico, que muitos insistem em classificar como um problema hormonal inexistente até duas décadas. O valor de um chocolate na vida das mulheres está ligado às dificuldades de, muitas vezes, satisfazer o mais simples desejo de um(a) filho(a).

Interpretações da vida das mulheres como essa só demostram o quanto o poder executivo local está distante da realidade das mulheres. O que não é de espantar se lembramos o quanto nós mulheres perdemos de espaço com o desmonte do Orçamento Participativo, onde podíamos definir os destinos da nossa cidade de forma plural, democrática e igualitária. Essa Porto Alegre desconectada do destino das pessoas, da realidade da população, jamais compreenderá o poder emancipatório de uma assembleia popular e democrática como as que já vivenciamos nas administrações petistas.

Vanessa Gil é socióloga, especialista em Pensamento Marxista e militante da Marcha Mundial de Mulheres

As imagens da campanha sem noção feita pela Prefeitura de Porto Alegre estão na abertura do post. Abaixo, reproduzo as imagens elaboradas pelos movimentos sociais sobre o que Só Uma Mulher Sabe.

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