Monica Shores: Como respeitar trabalhadoras sexuais

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Tatiane Pires

No dia 17 de dezembro, Dia Internacional pelo Fim da Violência Contra Trabalhadoras Sexuais, publiquei a tradução de um artigo de Artemisia de Vine — como você pode ajudar a combater o estigma contra trabalhadoras sexuais[1] — em que ela sugere outros dois artigos. Já traduzi um dos artigos e publiquei aqui no blog: como ser uma aliado das trabalhadoras sexuais[2]. Este é o segundo artigo indicado por Artemisia: como respeitar trabalhadoras sexuais.

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Texto a seguir é de Monica Shores.

A maioria das mulheres têm sentimentos fortes sobre a indústria do sexo, sejam elas a favor ou contra. (E muitas, é claro, continuam indecisas.) Quando se trata de um tema tão emocionalmente instável, é fácil silenciar inadvertidamente ou mesmo insultar profissionais do sexo. (Como participante do ativismo pelas trabalhadoras do sexo nos últimos quatro anos, eu já vi isso acontecer.) Há uma maneira de debater o sexo comercial, respeitando os trabalhadores da indústria. Aqui estão algumas sugestões:

1) Não diminua nem zombe da autonomia dos trabalhadores do sexo. Quando se discute sobre uma pessoa ter sido coagida ou forçada ao trabalho sexual, um reconhecimento sensível de uma violação sofrida está definitivamente em pauta. No entanto, é importante deixar que os próprios indivíduos façam essa distinção, em vez de atribuir automaticamente um rótulo que indica falta de autonomia. Por exemplo, referir-se a todos os trabalhadores do sexo como “prostituídos” ou “usados” pode, por si só, violar a autonomia se a pessoa identifica o seu trabalho como uma escolha livre.

Da mesma forma, a linguagem que implica que os trabalhadores do sexo estão contaminadas ou são repugnantes irá rapidamente aliená-los, como este comentário no Ms. blog, por exemplo, chamando o pornô de uma “instituição que usa sistematicamente os corpos dos grupos subordinados puramente como objetos sexuais na melhor das hipóteses, e sanitários abertos na pior das hipóteses”. Mesmo os trabalhadores vítimas de abuso não querem se faça analogias que os coloca como recipientes de lixo.

Há uma maneira de reconhecer as indignidades praticadas contra outro ser humano sem aprofundar essas indignidades. Por exemplo, insistir que cada ato sexual pago é um estupro, independentemente de como a pessoa está sendo paga, torna-se um rótulo e implica que a incapacidade de rotulá-lo como estupro é um fracasso pessoal. Nenhum trabalhador sexual merece ser demonizado para afirmar a natureza de suas experiências.

2) Não suponha que seus problemas com a indústria do sexo são os únicos problemas do setor. Algumas das críticas mais frequentes à indústria do sexo — que solidifica o patriarcado ou que mercantiliza sexualidade das mulheres — são considerações significativas. Mas essas críticas podem não estar entre as principais preocupações dos próprios trabalhadores do sexo, que estão geralmente mais interessados ​​em evitar o assédio ou o abuso dos agentes da lei, em encontrar o local de trabalho mais seguro possível e em ganhar a vida. Como a profissional do sexo e artista Sadie Lune disse: “pare de me punir só porque você não é capaz de imaginar ser eu.”

3) Cuidado com a linguagem. Algumas acompanhantes podem referir-se a si mesmas ou a suas amigas como “prostitutas”, mas trabalhadoras do sexo não confiam no uso dessas palavras por alguém de fora do meio. “Trabalhadora do sexo” foi concebido como um termo sem julgamentos, e geralmente é uma aposta segura, se não tiver certeza de qual expressão seria mais respeitosa. Alguns especialistas anti-indústria opõem-se a ele, alegando que isso “legitima” prostituição, strip ou atuação na pornografia. Mas é importante não usar suas queixas sobre a indústria como ataques pessoais a todos dentro dela. Os trabalhadores em questão são seres humanos, e qualquer estrutura que não reconheça isso precisa de reconfiguração.

4) Eduque-se. Se você vai falar sobre um assunto que afeta inúmeras pessoas ao redor do globo, informe-se sobre ele. Visite os sites e blogs de profissionais do sexo, ativistas e aliados, não apenas aqui nos EUA, mas também no exterior. (Movimentos de trabalhadores do sexo são ativos na Índia, Argentina, Taiwan e na Suécia, para citar apenas alguns. Alguns recursos são vinculados abaixo.) Leve em conta as vozes dos trabalhadores do sexo e não apenas dos teóricos e dos políticos. Ao encontrar alguma estatística, verifique a fonte e examine de que forma os dados foram coletados. Seja crítico e compassivo em medidas iguais. Ainda que você possa ter algum problema com o tipo de trabalho que eles fazem, você vai ter certeza de não atropelar a dignidade de um trabalhador do sexo nesse processo.

International Union of Sex Workers
International Sex Worker Foundation for Art,
Culture and Education

Police Prostitution and Politics
Bound, Not Gagged

Publicado originalmente no blog Ms. Magazine » How To Respect Sex Workers

[1] Artemisia de Vine: Como você pode ajudar a combater o estigma contra trabalhadoras sexuais
[2] Red Light Chicago: Como ser uma aliado das trabalhadoras sexuais

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