O assunto desse post não é a tragédia que aconteceu em uma escola do Rio hoje, 7 de abril[1]. Entretanto, reproduzo aqui um trecho do post “a tragédia no Rio e uma juventude em transe” do Blog da Cidadania[2] relacionado ao que vou escrever:
Assistindo ao primeiro capítulo da nova novela do SBT, Amor e Revolução, que versa sobre a ditadura militar, comentei no Twitter como era espantoso lembrar que há poucas décadas este país tinha uma juventude idealista que se dispôs a morrer pela pátria e pelos seus semelhantes acalentando anseios de justiça social. (grifo meu)
Quem tem vinte e poucos anos hoje, grupo em que me incluo, viveu a infância nos anos FHC; os adolescentes, na era Lula. Todos os nascidos a partir de 1988 vivem num Brasil democrático, como afirma nossa Constituição[3]:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político.Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Os dois períodos ditatoriais pelos quais o Brasil passou — sim, duas ditaduras: o Estado Novo de Getúlio Vargas em 1937 até 1945, e a Ditaura Civil-militar de 1964 até 1985 — deixaram marcas que ainda não foram superadas, uma delas é não falar sobre política.
Para agravar esse fato, não conhecemos nossa história! Lembrar alguns dos nomes dos tempos de escola está muito longe de ter uma compreensão real da história do nosso País. A educação no Brasil, por sua vez, foi destinada à elite em boa parte de nossa história. Somente a partir da Constituição de 1934 — há menos de um século — a educação foi reconhecida como direito de todos e responsabilidade também do poder público[4].
Voltando à política, acredito que a maioria dos jovens de hoje não sabe o que aconteceu com a ARENA (Aliança Nacional Renovadora, partido de situação da ditadura) e quais partidos tiveram origem no MDB (Movimento Democrático Brasileiro, oposição).
É importante lembrar que essa oposição consentida do MDB estava sob constante vigilância da ditadura. Já comentei aqui no blog sobre os Atos Institucionais (AIs) no post “Wikileaks: caso Herzog”[5], resumindo o ditador presidente podia fazer cassações de mandatos e suprimir direitos políticos.
A ARENA virou PDS (Partido Democrático Social), mudou para PPR (Partido Progressista Renovador), mudou para PPB (Partido Progressista Brasileiro) e hoje se chama PP (Partido Progressista)[6]. Não é irônico que o partido da ditadura tenha se autoproclamado “Democrático” em sua primeira mudança de nome? E que, desde a segunda mudança de nome, autoproclamem-se progressistas?
Naquele momento o MDB — que depois virou PMDB — fazia forte oposição. No entanto, com a mudança na lei orgânica dos partidos em 1979, houve o surgimento de novos partidos políticos na oposição.
A política mudou e os partidos também mudaram. O PMDB de hoje não é nem a sombra do MDB de oposição daqueles tempos, por exemplo.
O que os jovens vêem hoje são muitos políticos descomprometidos com aqueles que os elegeram, aceitando propina e mostrando total descompromisso com o dinheiro público. Além disso, a total perda de sentido programático de muitos partidos e as alianças esdrúxulas só pioram esse quadro. Um exemplo da perda de sentido programático é o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira).
Social-democracia é uma ideologia de esquerda cujo ideal é a implementação de uma reforma no legislativo dentro do sistema capitalista para torná-lo mais igualitário, essa ideologia surgiu no fim do século XIX de partidários do marxismo que acreditavam na transição para uma sociedade socialista sem que ocorresse uma revolução (isto é, guerra civil).
No Brasil, o partido que se diz social-democrata (o PSDB) foi o partido que, ao chegar no governo com FHC, implementou com força total medidas neoliberais que levaram o Brasil à beira da falência. Além disso, altos índices de desemprego, redução da presença do Estado na assistência à população e privatizações são algumas das marcas da gestão (sic) de Fernando Henrique Cardoso.
Um caso emblemático para ilustrar o que representaram as privatizações é a Vale. Privatizada — isto é, vendida para o capital estrangeiro — em 1997 por R$ 3,3 bilhões, esse foi o valor do lucro líquido da Vale no 3º trimestre de 2010. Atualmente, a União lidera o grupo de acionistas majoritários da Vale e botou Roger Agnelli (ex-presidente da empresa) pra correr[7], ainda bem.
Os grandes veiculos de comunicação omitem e distorcem informações, contribuindo para que o povo permaneça desinformado. Não há espaço para a comunicação plural tão necessária para uma democracia. A comunicação no Brasil precisa urgentemente de regulamentação.
A juventude não se sente representada pelos políticos que aí estão. E sem conhecer a história do País, para se inspirar na coragem dos que enfrentaram todo tipo de pressão e perseguição para termos hoje um Estado Democrático de Direito, não vê formas de intervenção. Como esperar que se mobilizem?
[1] Atirador de escola no Rio diz em carta de suicídio que tinha HIV
[2] A tragédia no Rio e uma juventude em transe, no Blog da Cidadania.
[3] http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
[4] BELLO, José Luiz de Paiva. Educação no Brasil: a História das rupturas. Acesso em 07/04/2011.
[5] Wikileaks: caso Herzog
[6] Aliança Renovadora Nacional. Wikipedia. Acesso em 07/04/2011.
[7] Presidenta decepciona o PIG e escolhe presidente da Vale no blog Conversa Afiada.